sexta-feira, 14 de junho de 2013

O prazer dos teus olhos

       
         Foi uma busca de movimentos e disfarces muito loucos. Lembro-me como se fosse hoje, foi em uma tarde de outubro, num final de semana qualquer. Lembro-me (também) que era um dia para ficar em casa, como qualquer outro final de semana, queria descansar. Afinal, a semana tinha sido muito puxada. Então, por uma “luz divina”, resolvi sair para respirar. Peguei minha bicicleta, logo o metrô, desci na estação da Galeria (na Asa Sul), fui para o parque.
        Pedalei, só queria permanecer pedalando. Até que resolvi parar para descansar, deixando a bicicleta de lado. Peguei a toalha que estava na minha mochila e joguei ao chão, deitei. Com meus fones de ouvido, comecei a viajar, levantei e da minha súbita loucura iniciei uma dança. Quando dei por mim, aquele rapaz estava me olhando, me admirando. Parecia que eu era a moça saída de um dos livros românticos do Nicholas Sparks. Mas não era. Porém, ele continuará admirando.
       Insana como sou. Continuei, não liguei muito. Até que comigo, ele veio falar. Cara, que frio na barriga. Moreno com os olhos pretos. Pensei: “estes olhos negros como o oceano escondem alguns segredos”. Cada passo era uma alucinação. Cada passo, uma emoção. Chegou mais perto. Invadiu-me. Pestanejei, segurei-me. Até que ele pronunciou:
- “Meu nome é Pedro, e o teu?”.
- “Clara!” – Curta fui.
        Encostei-me na minha bicicleta, pensei em sair correndo. Mas minhas pernas estavam bambas, então, sentei na bicicleta. Ele apoiou-se na mesma de frente para mim. Mais tonta fiquei. Sabe quando o Bentinho encantou-se por Capitu e pensou: “Olhos de cigana obliqua e dissimulada”. Só que era inverso, os olhos dele foram programados para encantar-me. E adivinha? Teus olhos tornaram-se espelhos de minh’alma, encolheram-me diante da negritude de teus segredos.
        Começamos a andar e a conversar. Foi uma tarde maravilhosa. No final da tarde, tive que despedir-me. Quando estavas a sair dali, meu braço ele puxou, olhou e confessou: “tu és a flor que um dia meu coração encantou”. Imaginação finda ou muito mais que linda. Beijou-me por minutos. E estes beijos foram se repetindo. Só que com mais intensidade, no decorrer dos dias. A minha bicicleta fez parte daquilo, ela ficou com um aspecto de romancista do século XIX. Doce! Repetia para mim. Quando dei por mim, de mim por mim, com uma dose de redundância não mais havia. E no meu coração tanto amor, já não mais cabia.


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