sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

"Ninguém me disse sobre..."

        
             
        É o seguinte: quando nasci não me abraçaram e disseram que eu teria um grande futuro. Ninguém me disse que eu iria amar de todo o coração, nem sofrer com tanta desilusão. Ninguém me disse o que eu devia fazer além dos meus pais e irmãos. Ninguém esteve tanto tempo do meu lado pra me perguntar "para que nada eu estava a olhar". Ninguém me disse que a alegria seria mútua, da mesma forma que me esconderam que o sofrimento moraria logo ao lado. E, entre esses "vão e vem", fica e sai, decide e volta atrás, socorre e esconde, mistura e diferencia, entra e sai, bate e defende, omite e ofende, conta e desmente. 

         Ninguém me disse que o meu primeiro copo de José Cuervo seria com a minha irmã, que o meu primeiro copo de chopp seria com meu irmão, que a minha primeira Caipirinha seria com meus amigos, que a minha primeira desilusão seria com o meu primeiro namorado. Ninguém precisou me dizer sobre um Deus que mora no Céu, sobre a fé do Islamismo em um Deus denominado Ala, sobre uma felicidade rotineira e as dificuldades que temos a cada minuto. Ninguém me disse sobre como montar uma barraca. Ninguém me disse que eu escolheria o curso que escolhi, nem sobre os livros que já li. 

        Ninguém me disse, até hoje, sobre os rumos que tenho que tomar. O máximo que meus pais e família fazem é me aconselhar. E, mesmo assim, possuo o grande defeito: "o da juventude surda". Explique-me o que você entende por "juventude surda" e eu lhe direi sobre o que entendo do mundo. Ou seja, nada! Porque não escuto muito o que me falam, apenas ouço quando estão precisando de algum ouvinte. Ninguém me disse que o meu pai conversaria sobre política comigo logo no café da manhã, antes deu ir pra faculdade. Nem que meus sonhos seriam afastados de mim no decorrer da minha velhice. 

       Engraçado que nas misturas dessa vida, o máximo que conheço é uma roda de disputa de rap, uma família, uma bíblia, o gosto de um café, o cansaço de um conciliador, o pensamento escasso, letras miúdas, a dor de cabeça de uma pessoa que tem o óculos, mas deixa na mochila. A sensação das músicas de Mallu, Clarice e Marcelo e alguns poucos poemas de minha musa, Clarice Lispector. Mas conheço ainda mais sobre a sensação de querer um romance similar ao dos livros que leio. Ou se preferir, aos clássicos de Jane Austen. Vou confessar um segredo: toda vez que escuto "Suddenly I see", imagino-me andando em uma passarela, assim como a Anne Hathaway na rua no filme O Diabo Veste Prada. Ninguém me disse que a imagem contaria tanto, ou que eu gostaria de moda. E, mesmo assim, me vestiria como um mendigo em casa. 

        Se você acha fútil sonhar ou ter fé. Não venha me dizer que você é um desgraçado sem sorte pelos caminhos da vida. Já me senti assim, meio excluída e sem razão. Por favor, não venha me pedir pra parar de seguir a minha emoção. Pois, irei lhe perguntar: "até aonde lhe levou a razão?". Saia por aquela porta e veja que as cores quem faz é você. Como? Misturando umas as outras! 

       Ninguém me disse que eu escreveria isso, nem que eu seria assim: meio louca, meio triste, meio sacana e, por inteiro, pelos caminhos da vida, aprender a ser uma mulher!

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